sábado, 6 de setembro de 2008

Retrospectiva Rebecca -- Parte II


Dia de empacotar livros... É estranho decidir quais levar, quais deixar. Não há exatamente um critério, só o das obras que têm valor sentimental para mim; e outras que são realmente importantes ter por perto, como um volume único de Matemática -- levando em consideração que as Ciências Exatas sempre me perseguiram, aonde quer que eu fosse.

E sempre que estou empenhada em definir o que levarei comigo, não posso deixar de lembrar de tudo por que passei até aqui. Como, por exemplo, a escolha das universidades para as quais aplicar, e também os SATs e Toefl.

Escolher as escolas é bastante complicado, principalmente porque é como estar escolhendo uma nova casa para morar. Não adianta procurar as melhores instituições, se você não gosta de cidade grande / meio suburbano. Lia as missões das universidades, e procurava entender com o que elas se comprometiam no ensino das majors; e assim ia marcando na lista os locais que mais me interessaram: University of Pennsylvania; Barnard College; Ithaca College; e Lawrence University.

Estava focando, no início, na Nova Inglaterra, mas acabei indo para a região centro-leste dos Estados Unidos, sem perceber. A Lawrence University, na minha cabeça, não iria me aceitar -- ela era muito rígida nos SATs, e eu achava que não havia conseguido notas tão competitivas. E após um tempo silencioso, comecei a ouvir palavras de consideração da Lawrence.

O que mais me chamou a atenção foi o quê acolhedor de todos os e-mails. Os membros do escritório de admissões da escola eram bastante atenciosos e complacentes, e escreviam e-mails sempre muito detalhados. Aos poucos fui entendendo a importância da comunidade de alunos internacionais para a Lawrence, e o quanto eles precisavam ser criteriosos na escolha. "Seja o que Deus quiser, então...". E quando a resposta foi afirmativa, nem acreditei!

Guardando todos os livros que irão comigo (como O Diário de Anne Frank; Literatura Americana / Brasileira / Portuguesa; dicionários de estimação...) pensei no quanto batalhei por essa nova etapa da minha vida; e também no quanto pretendo estudar na Lawrence. A universidade me deu uma oportunidade única, e preciso corresponder às expectativas que estão depositando em mim, única brasileira da turma de 2012.

Muito mais que Rebecca, preciso ser o Brasil inteiro, e saber representá-lo bem, com honra. Não pretendo, definitivamente, desapontar ninguém.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Retrospectiva Rebecca -- Parte I


Já é setembro..! E esse mês, para mim, quer dizer dezembro. Como assim? Eu sei, confuso. Explico: No mês de dezembro normalmente estou mais inclinada a fazer análises da vida que tive até então; de como foi o ano, e o que fiz de bom (para continuar investindo nisso), e o que fiz de ruim (para não cair no mesmo erro). Todo mundo faz isso, em maior ou menor grau; é um exercício bastante saudável, até.

Nesse caso setembro ganhou ares de dezembro, porque significa início de uma nova etapa. Como vocês sabem estou me mudando para a Lawrence University na semana que vem, e até já trabalho num outro blog (Eu... Aluna Internacional) onde narro as minhas aventuras como estudante em terras estrangeiras; e isso tudo vem causando um rebuliço enorme dentro de mim, e das pessoas com quem convivo.

Decidi, então, fazer uma retrospectiva dos momentos decisivos que me levaram a aplicar (apply) para uma universidade no exterior, e culminaram com a minha aceitação por ela. Sei que muitas outras pessoas estão iniciando a mesma batalha, e acredito que as minhas palavras possam servir de algum consolo - ao menos do ponto de vista de alguém que sobreviveu ao processo inteiro.

Quando me transporto para trás percebo que, de algum modo, sempre estive voltada à possibilidade de estudar fora. Ou melhor... possibilidade não... Inclinada ao desejo de sair do Brasil, ao menos por algum tempo, e aprender envolta por uma cultura diferente. Porque a minha família nunca teve condições de arcar com os gastos de uma vida em terras de além-mar. E, em verdade, a minha mãe já disse em entrevista que sempre escutou os meus planos - até então de criança - e suspeitava seriamente de que eu estivesse "viajando na maionese". Não porque fosse uma menina sonhadora, mas porque fossem planos aparentemente de impossível realização. Encorajador, não? Mas pelo menos nunca me disseram "Está maluca, criança?", e então cresci acreditando que no final, de alguma maneira, tudo daria certo.


Desde pequena eu sabia que o meu destino seria estar junto da escrita. Eu precisava sempre poder escrever, e ter a atividade não apenas como hobby, mas como sustento, mesmo - porque eu não poderia viver sem ela. E no colégio participava de concursos de redação; e cheguei a ganhar alguns, sim. Ficava feliz não pelo prêmio em si, mas pela certeza de que estava no caminho certo para mim.

Escritora? Sim, também. Mas faltava algo. Eu queria escrever e trazer alegria às pessoas, mas não como escritora. Queria ver a vida acontecer, e não escrever apenas sobre histórias fictícias. Precisava sentir a força dos acontecimentos, e ter força o suficiente para interferir na História... fazer História! Como tantos homens corajosos que se muniram de papéis e canetas para denunciar os horrores da impunidade, como esses jornalistas que avançavam para o front, como se soldados fossem, e escreviam o que viam com apenas um temor: O de que nada fosse feito para mudar aquela realidade.

Eu precisava ser jornalista, e correspondente de guerra foi a minha escolha de vida. E por isso venho lutando desde que me entendo por gente. E o desejo me remete aos povos africanos e do Oriente Médio, os quais tomo como indivíduos de minha própria família - para onde quero rumar com a certeza de que sou filha daquelas terras. Estudar fora me possibilitaria encontrar estes irmãos desconhecidos mais depressa, e por isso a importância dos applications ganhou peso redobrado nas minhas costas. Como eu sentia que precisava partir por eles, não poderia deixar que a oportunidade de aproximação fosse minada por falta de conhecimentos ou concentração.

E todo o processo começou no reencontro dos Jovens Embaixadores, em maio de 2007, em São Paulo - SP. Éramos vinte e cinco pessoas diante da Rita Moriconi, educational adviser da Fulbright; e também três garotos que haviam passado por tudo o que nos aguardava, e saído vitoriosos.

Eu queria conseguir, e sabia que podia - mas temia o que estava por vir. Precisava estudar mais, e preocupar-me também com a faculdade no Brasil que iniciara no mês anterior; as notas precisavam estar impecáveis para o momento de apresentar o meu histórico escolar. E os SATs (espécie de vestibular americano) eram-me novo desafio apresentado: Mais uma vez a Matemática a se insinuar na minha vida.


Levava os livros comigo aonde quer que eu fosse. Comecei a estudar Espanhol sozinha, com a ajuda do site da BBC (BBC Learning Spanish), e depois me inscrevi numa cadeira de Espanhol Instrumental com calouros de Publicidade e Propaganda. Fazia exercícios de Matemática (!) na hora do almoço, naquelas mesas vermelhas do restaurante do CAC (Centro de Artes e Comunicação), o Aquarela; distraindo-me de vez em quando para observar a passagem dos alunos estrangeiros, e desejando algum dia também ser uma aluna internacional. O livro de História Geral da época de Colégio Militar também foi dos mais úteis!

O dia das provas se aproximava a todo vapor, e precisava definir para quais universidades aplicar... Estava com tanto medo que nem sou capaz de descrever!

[continua...]